segunda-feira, 17 de novembro de 2008

vivendo o sonho...

Acordou com aqueles grandes olhos verdes olhando para ela. Estranhou a foma como ele a olhava. Parecia que era a primeira vez que a via. Sorriu para ela e lhe deu bom dia.

- Que horas são?
- 8hr.
- E tu já acordou?
- É porque tenho que resolver umas coisas do trabalho. Fica ai dormindo, que eu não vou demorar.
- Mas, tu nem me disse nada. Eu odeio ficar aqui sozinha, dormindo.
- Tá todo mundo em casa. Minha mãe não vai entrar aqui. Ela até disse que se você quisesse tomar café que fosse lá.

Estranhou tudo aquilo. Ele sempre avisava quando tinha que trabalhar aos sábados, para que ela não ficasse lá só. Beijou-lhe o rosto e saiu.

Ficou ali pensando no que faria. Espreguiçou-se e deitou novamente. Pensou em tudo o que acontecera entre os dois...

Conheceram-se havia mais de um ano. Mas, de alguma forma não se levavam a sério. Ela sabia que ele a via como mais uma, então não deixou-se entrar na relação. Boicotou qualquer coisa que poderiam ter. Ele também não fez nenhum esforço e assim ficaram. Ou melhor, não ficaram.

Depois de mais de seis meses que se conheceram, e de toda a confusão, encontraram-se um dia numa roda de amigos. Eles nunca haviam deixado de se falar, mas não conversavam mais como antes. Parecia que o interesse havia acabado. Se é que algum dia existiu. Nunca conversaram sobre o que havia acontecido, parecia que não importava. Mas, naquela noite que se encontraram, começaram a conversar como se fosse a primeira vez.

Foi um recomeço. Começaram a se conhecer de novo, a sair e se re-interessaram um pelo outro. De repente, estavam namorando. Ela começou a se apaixonar e por mais que ele não demonstrasse, também parecia bastante envolvido. Estavam juntos há quase um ano já.

Entretanto, há alguns dias vinha percebendo-o distante. Parecia que ele escondia algo. Com o histórico dele, começou a pensar que podia ter outra, que ele estava saindo escondido. Sentiu-se insegura. Mas às 8 horas da manhã? Que estranho! Virou-se de lado e viu em cima da bancada a foto dos dois. Tentou acalmar-se e acabou dormindo de novo.

Ele abriu a porta devagar e observou-a dormindo. Como estava linda! Nunca pensava que se apaixonaria, muito menos por ela. No começo, ela era, realmente, só mais uma. Mas, só depois percebeu que apesar da forma dela ter fugido, que foi a pior possível, ele também a impulsionou para tal. Ambos erraram. Recomeçaram depois. Foi aí que ele realmente percebeu ela. Aos poucos, também se apaixonou e isso o tinha levado àquela decisão.

Aproximou-se da cama e beijou-lhe o rosto. Ela virou-se e abriu os olhos, sorrindo. Foi então que ele falou que precisava conversar com ela. Algo muito sério. Ele havia se formado fazia pouco tempo. Tinha um trabalho bom, entretanto havia sido convidado para ir embora, realizar um novo projeto, o qual iria ganhar muito bem e impulsionaria sua carreira.

- Ah, entao tu vai embora?!
- Não é bem assim. Eu só vou precisar ir no ano que vem.
- Ah...e para onde você vai?

Ela estava visivelmente triste. Seus olhos já enchiam de lágrimas. Não pensava que fosse acabar assim.

- Para a Alemanha.

Ele parecia tão seguro em suas palavras, parecia não perceber o quanto ela estava ficando magoada. O quanto aquilo a feria. Ela baixou a cabeça e foi levantando da cama. Ele a segurou pela mão.

- Eu quero que você vá comigo.
- han?

Aquilo não era o que ela estava esperando. Ficou totalmente surpresa com o que ele dizia. Um dos homens mais mulherengos que ela havia conhecido, tudo bem era seu namorado, mas queria que ela fosse embora com ele!? Como não ficar surpresa?

- É..é o tempo certo. Você se forma no fim do ano que vem. Dá tempo de sobra de organizar tudo para você ir comigo. A elaboração do projeto vai iniciar apenas no começo do ano, durante esse tempo, eu só vou precisar ir algumas vezes. A produção, em si, começa no fim do ano. E você ainda pode tentar teu mestrado.
- Tu pensou em tudo, né?
- As soluções vieram sozinhas.

Ela permaneceu calada. Sem saber o que dizer. Ele puxou do bolso uma caixa. E entregou a ela. Não. Não era um anel. Era um colar, com um pingente de coração com brilhantes.

- Achei que seria bom ser diferente...
- Isso é um pedido?
- Sim. É. Você quer?

Olhou para ele. Olhou para o colar em seus dedos. Olhou para ele de novo. Abriu um sorriso...
- Sim, quero!

Delicadamente, sorrindo, ele colocou o colar no pescoço dela, beijando-a. Entrelaçaram os dedos e ficaram assim, abraçados de mãos dadas.
- Te amo muito.
- Eu também.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

um encontro...

Nunca na sua vida tinha deixado de lado o que achava quanto naquele momento, não que ela se lembrasse. Estava ali e ali estava. Não procurava nada, simplesmente vivia naqule instante o que ele lhe apresentava. Sem planos, sem expectativas.

Ele apareceu aí. Nesse momento, nesse dia sem expectativas e, apesar da antipatia que por ele sentia, conseguiu abstraí-la a ponto de poder estar ali com ele. Permitiu-se conversar com ele e ser ela mesma e ouvi-lo sem raiva. Permitiu-se interessar-se e, acho, que deixar-se interessar. De alguma forma, por algum motivo houve um encontro ali. Único e imprevisível.

Não poderá nunca não lembrar dos longos instantes em que apenas se olharam. Profundamente. Buscavam algo, um no olhar do outro. O que buscavam podia não ser o mesmo e talvez nem eles tenham se dado conta do que procuravam, se é que realmente o faziam. O longo olhar não culminou em um beijo. O longo olhar talvez tenha culminado num conhecimento, silencioso, um do outro.

Algo após aquilo tudo modificou-a. Algo ali naquele encontro acrescentou-a. Algumas palavras dele, ela não esqueceu. Não só palavras, não só olhar. Ficou nela também aquela puxada pela mão, aquele abraço e o beijo. Poderia ser o único. Mas aconteceu no aqui - agora daquele momento e ficaria gravado nela como uma experiência vivida e, com certeza, nele também. Não importa se nunca acontecer de novo. Aquele encontro, naquela noite sem expectativas havia valido a pena e só isso lhe bastava.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

uma última vez...

Respirava devagar. Inspirando e expirando. Tentava inalar o cheiro dele. Tentava que aquele cheiro ficasse para sempre. Fechava os olhos, mas seu cérebro trabalhava mais ainda. Todas as lembranças vinham à tona naquele instante...

Abriu os olhos e ele continuava dormindo. Provavelmente, seria a última vez que o veria assim, dormindo, em toda a sua calma. Olhou ao redor. O quarto hoje lhe era familiar, apesar de ter demorado um tempo para se acostumar com ele. A cama no centro, televisão na frente, o guarda-roupa ao lado da porta, a janela de frente para a porta, uma bancada embaixo da janela e o computador sempre ali. Era todo branco. Havia algumas, poucas, fotos da família. Ela nunca conseguira uma foto sua ali. Na verdade, só se deu conta disso naquele momento. Não tinham fotos juntos, só os dois. Agora tinha certeza de que só sua memória ia ter aquelas lembranças. Não teria nada externo para lembrar-lhe dele e dos momentos...

Inspirou profundamente mais uma vez e ele se mexeu na cama. Apenas mudou de posição. Sentada com as pernas cruzadas, ela continuava a observá-lo. Acariciou seu braço e ele respondeu segurando-a. Puxou-a para perto de si. Não disse uma palavra. Não abriu os olhos. Passivamente ela deixou-se escorregar para o lado dele, acomodando-se em seu peito. Ele pôs o braço sobre o corpo dela, coberto com uma camisa sua e acomodou-a em seu peito. Passou as mãos pelos cabelos dela, ombro, costas. Ela ficou assim, no peito daquele homem que tantas vezes amou, naquele quarto que tantas vezes dormiu, com aquele silêncio que dizia tudo. Também ele sabia, mesmo sem demonstrar, que, provavelmente, seria a última vez que ficariam assim...

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

"não trate como prioridade..."

Estava encostada no parapeito. Era uma ampla varanda, mas não era sua casa. Olhava para o horizonte, as casas ao longe, as dunas e lá no fim um pontinho azul de mar. Abaixo a rua. Carros passavam. Pessoas também. Haviam árvores e um campo. Não pensava em nada, apenas deixava o vento alisar seu rosto e balançar seus cabelos. Seria possível não pensar em nada? Talvez apenas não concentrar-se em um ponto...

Ouviu passos. Não deu muita importância a eles. Deixou sua mente divagar por entre a paisagem...Eram passos arrastados. Vinham em sua direção. Suas divagações pararam. Saboa quem era e não queria que fosse. Sabia o que aconteceria quando ele a tocasse. Sabia que não conseguiria enfrentar.

Se existe diferença entre mentir e omitir, ela vivia num mundo de omissões. Não de sua parte, pois tentava ser sincera, mas as pessoas que a rodeavam, as pessoas com quem ela se relacionava pareciam não se preocupar tanto assim.

Sua vida estava pautada numa repetição. Havia conhecido alguém que a fizera sonhar. Uma pessoa que dizia querer casar-se com ela. Estranhamente ele escondia-a dos amigos. Ela não desconfiava de nada, até o dua em que o viu com outra. Em choque, deu-se conta de que não era nada para ele. A outra, na verdade, era ela.

Mas isso já faziam anos. Seu coração ferido parecia ter sarado, mas agora, de novo, envolvera-se com alguém na qual ela ficou na posição de "outra"...Independente de alguém que podia colocar-lhe na posição de uma, ela não entendia porque escolhia pessoas que não a escolhiam, quando as vezes ela podia até ter escolha...ela seguia escolhendo quem não a tratava como prioridade...

Não queria vê-lo, não queria enfrentá-lo, não quria que ele se aproximasse, mas os passos agora paravam atrás dela. Sentiu a respiração no seu cabelo, uma mão tocar-lhe, virou o rosto lentamente e surpreendeu-se com quem encontrou...


quarta-feira, 10 de setembro de 2008

como você se sente...

Você se compromete a não se envolver, não gostar de qualquer um, não se apaixonar. Afinal, para quê tudo isso se você não sabe do envolvimento da outra parte? Você se sente congelada, mas antes congelada do que sofrendo. É o que você pensa.

De repente você conhece alguém. E esse alguém de alguma forma, por algum motivo que você não consegue entender direito, mexe com você. E ele é legal, mas até então você não sabe de nada a respeito dele. Você tenta uma aproximação, leve, e percebe que não foi como você esperava. Você resolve deixar para lá.

E você deixa. Durante alguns dias nem se lembra dele. Até que ele ressurge. A partir daí você tenta se reaproximar, dessa vez um pouco mais enfática. Você vai se aproximando, as vezes parece amiga, mas não é bem isso que você quer.

Surge uma oportunidade de encontro e este ocorre. Você fica feliz. Você sente como se ele estivesse interessado, mas não sabe direito. Ele é um enigma. Algo que foge a sua compreensão. Alguém que você não consegue saber demais sobre. Outro encontro, mas uma vez amiga. Ele te enche de perguntas que te entregaria facilmente as quais você foge.

Você então toma uma decisão, a qual você não se arrepende, de tomar a iniciativa. De fazer algo que talvez nunca fizesse. Dá um primeiro passo que podia fazê-la cair. Age independente dele, independente de tudo. Acontece o que você não espera. Você cai. A ação dele não condiz com a sua. Você sofre. Fica triste.

Você começa a pensar que ele não está interessado. Tenta se re-erguer deixando-o para trás. Você não o procura. Nem ele te procura. Você se pergunta onde errou. Se a ação tinha sido muito ofensiva. Se sente mal por pensar que foi "trocada". Pior, se sente que foi "trocada" por nada.
Apenas por não ser do jeito que poderia ser ou por ter agido como agiu.

Você tenta esquecer. Conversa com as pessoas. Você não se arrepende, mas as pessoas te criticam, te condenam. Enquanto a ele? Não dá a mínima, como se nada houvesse ocorrido. Na verdade nem te procura.

Então você descobre que não foi "trocada" por nada. Que existe outra. Você fica triste de novo. Pensa em todos os seus valores e se compara.

Você está triste. Quer consolo, quer colo, quer compreensão. Quer não se sentir arrependida como todos te ajudam a sentir. Você se sente burra. E ao final de tudo você simplesmente não quer sentir, exatamente como havia se comprometido.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

um dia de abril...

O céu estava cinza naquela tarde de abril. As nuvens carregadas, quase negras, despejavam toda aágua que tinha nelas. Ao longe, naquele imenso campo, uma árvore. Grande e frondosa. Ela estava sentada ao pé daquela árvore. Não escondia-se da chuva, queria misturar-se a ela, àquele cheiro de grama molhada e àquela árvore que a protegia desprotegendo.

Tinha os cabelos molhados, ensopados, assim como a roupa, pela água da chuva. Os pés descalços brincavam com a grama e com um pouco de lama que tinha no pé daquela que lhe protegia. Fechou os olhos para poder sentir as gotas da chuva correndo-lhe pelo corpo.

Ouviu passos. Aquele barulho de sapatos na grama molhada. Abriu os olhos. Seria ele? Acreditava que iria esperar em vão. Mas, aparentemente não. Os passos faziam-se mais rápidos. No cinza do céu, conseguiu distinguir aqueles olhos verdes. Aqueles que ela tanto esperava. Seu peito se enchia de sentimentos que ela não conseguia explicar...

Os olhos se aproximavam. Já conseguia distinguir a boca, os formatos do rosto. Levantou-se e correu para ele. Pulou em seus braços, braços que a acolheram, que a levantaram e a abraçaram. Beijou-o longamente, apaixonadamente. Um beijo que poderia não acabar nunca. Colocou-a no chão e ela o puxou pela mão. Para a proteção de sua árvore, para a proteção daquele momento.

Sentou-se no chão, enquanto aqueles olhos verdes observavam toda a sua desenvoltura naquela situação. Seus cabelos molhados, escorridos no ombro, sua roupa molhada colada no corpo, destacando suas formas, seus pés enlameados, misturados com a terra, a maneira como ela sentava e sentia-se segura e a vontade naquela situação. Ela estendeu a mão puxando-o para a terra junto com ela.

Beijaram-se de novo. Um beijo com gosto de desejo. Um desejo que eles não conseguiam segurar, uma vontade de ser um só. As mãos tateavam-se, procuravam aquele prazer sensivel não só aos dedos. Deitaram-se na terra molhada e deixaram-se descobrir, mais uma vez, um ao outro. Naquele momento não existia nada, apenas eles dois, a árvore e a chuva...

Ao longe, bem ao longe, onde aquela árvore era apenas um borrão, um carro parado na estrada. Dentro dele, apenas um celular que tocava. Na tela, o nome de quem ligava: AMOR!

terça-feira, 19 de agosto de 2008

se todas as paixões fossem assim... (parte 3)

No dia seguinte acordei até melhor da dor de cotovelo, e o melhor é que era nosso último dia, íamos embora ao anoitecer. Eu adorava aquela praia, mas não aguentava olhar o mar sem lembrar do Bruno. Nem meus sonhos eram agradáveis.

Cheguei em casa e meu irmão estava lá. Perguntou-me por que tinha uma cara tão triste, uma vez que nunca voltava da casa de praia com aquela cara triste. Contei o que tinha acontecido e ele achou super estranho o cara ter sumido, mas não falou mais nada. Deitei na cama e agarrada aos meus travesseiros sonhei com Bruno. Ele estava fugindo, mas não era de mim. Era do meu irmão que dizia que ele não era homem para mim.

Acordei assustada. Havia um barulho. Era o telefone que tocava ao meu lado. Uma das minhas amigas estava dizendo que o amigo de Bruno havia lhe ligado para contar quando e onde seria a festa, e completou que só iria se eu fosse. E, obviamente, acabei indo.

A minha sorte era tão grande que a primeira pessoa que eu vi foi Bruno. Mais uma vez os olhares se cruzaram e pararam. Ao lado dele a tal menina da praia o puxava de uma forma que achei que estivessem juntos e abaixei a cabeça. O quê que eu estava fazendo ali? Era só o que eu pensava. Não demorou muito para Bruno dar um passa fora na menina e parar ao meu lado. Beijou minha mão e disse:
- Desculpa ter saido daquele jeito, mas era urgente.
- Está certo. - foi apenas o que eu disse.
- Vem...quero falar direito contigo. - e me levou para o lado de fora da casa.

A casa era enorme. Era de um outro amigo dele. Fomos até o jardim, eu ainda tinha a cabeça abaixada, quando ele com a mão a levantou para nos olharmos. Tentou me beijar, mas eu virei o rosto.
- Tudo bem. Eu realmente preciso me explicar.
- Não, Bruno, não precisa! Teu pai estava doente...aonde está explicação nisso? Me parece bem claro.
- Gabi... - disse ele passando a mão sobre meu rosto - não foi bem assim.

Fiquei calada esperando o que mais ele diria e...

- Meu pai fez uma cirurgia, mas eu já sabia disso quando eu estava contigo. O problema é...

Não deixei ele falar e disse:
- É mulher, né?
- É... - disse ele timidamente - O que acontece é que eu namorava uma menina e a gente acabou porque ela foi embora, mas ela voltou e a gente estava ficando até eu te conhecer.
- Terminou? Porque essa é velha! E eu estou bem a fim de curtir a festa. - fui me levantando, mas ele me segurou pelo braço.
- Ow mulher birrenta. Tu não está entendendo, ne?
- O que eu não estou entendendo? Que eu sou uma bonitinha qualquer da praia?
- Não! Que eu estou apaixonado por ti!
- Ha-ha-ha! Faz-me rir, ne, Bruno? Vai ser comediante, é?
- Não, é sério. Só me escuta...
- Vai...
- Quando eu te vi pela primeira vez..Gabi, tu não tem idéia..eu achei que você fosse a mulher da minha vida. Eu gostei muito da minha ex, mas quando ela acabou porque ia embora, eu superei. Quando ela voltou, eu achei que ainda gostava dela e ela também queria tentar, por isso a gente meio que estava junto. Por isso eu saí da praia correndo, porque além da minha mãe estar precisando de mim, eu precisava acabar tudo com ela para poder tentar ficar contigo.

Eu não falava nada, apenas olhava para o chão.

- Se você quiser ficar comigo, é óbvio. A gente pode começar do zero. Mas...seria sem graça, visto que...
- Bruno..começar o quê? Tu com a tua namorada a trocou por outra, imagine comigo! E eu achanndo que tinha algo diferente. Homem é tudo igual mesmo.
- Oh Gabi..tu acredita se quiser, certo? Só fica sabendo que você foi a única pessoa que eu tive vontade de levar nas pedras. E aquele lugar é muito especial. Agora tu queria curtir a festa, né? Pode ir...já acabei!

Não quis olhar na cara dele, apenas me levantei e saí. Mais uma vez, ele veio atrás de mim.
- Vai ficar nisso mesmo? Acho que eu não sou igual aos outros...Todos já teriam desistido.
- Ai Bruno...por que, hein?
- Por que o quê?
- Por que eu sou tão besta?
- Besta? Não entendi.
- Por cair nessa tua conversa...

Ele me puxou para perto dele e disse:
- É o destino. Alguém quer que a gente fique junto. - beijou-me no rosto e me puxou pela mão - Vem, vamos aproveitar a festa...


(aqui acaba, mas cada um pode fazer o seu final como queira).

(novembro/2002)




PS: qualquer semelhança é mera coincidência. os nomes usados são aqui fictícios.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

se todas as paixões fossem assim... (parte 2)

Ao acordar, as meninas me observavam. Perguntaram o que tinha acontecido, que depois que eu sai, Bruno tinha entrado no mar para surfar e quase não voltava. Ele parecia bem chateado, diziam elas. Disse a elas o que havia acontecido e elas ficaram surpresas com a minha reação.

Elas diziam que a única forma de tentar compensar o acontecido era ir para o lual que teria na praia. Obviamente elas queriam ir, mas só iriam se eu fosse. Pensei em não ir, mas era, talvez, a única oportunidade que eu teria para conversar com Bruno e explicar a situação.

A lua parecia ainda mais bonita que na noite anterior. Bruno foi a primeira pessoa que vimos.
- Quero falar com você. - falei.
- Agora? - ele perguntou friamente.
- Quando você puder.

Sentei perto de umas outras meninas que tinhamos conhecido. Cantamos a noite inteira com a fogueira no meio. O tempo inteiro não conseguia parar de olhar para ele. Havia essa menina, que estava ao lado dele, ela parecia estar bastante interessada nele, mas ele parecia não dar muita atenção. Começamos a cantar "Vamos fugir", quando Bruno veio até mim e sussurou em meu ouvido: "vamos fugir desse lugar...", pegando na minha mão e me puxando. Nos afastamos um pouco e eu falei:
- Desculpa..
- Tudo bem, se você não quer eu não devia ter insistido.
- Não é que eu não queira, mas por algum motivo achei meio precipitado. Também não entendi o que aconteceu.
- Então, se um dia você se entender, me avisa. Só posso não esperar...
- E se eu me entendesse agora?
- Ai, eu teria que fazer isso...

E me beijou. Provavelmente o melhor beijo de todos. Quando nos viramos, todo mundo estava olhando, ele pegou minha mão, beijou-a e disse:
- Seus metidos. Vão cuidar da vida de vocês.

Todo mundo riu. Voltamos para a roda e ficamos juntos o resto da noite. A menina que estava ao lado dele havia ido embora. Quando o lual terminou ele foi me deixar em casa.
- Sabia que foi melhor assim? - ele falou.
- É o quê?
- Olha como foi romântico. A lua, a música, a fogueira, o mar..Tudo isso deixou o clima perfeito pra gente.
- Não imaginava que você fosse tão romântico.
- Sua insensível. - falou me beijando.

Nos despedimos e entrei em casa. Acho que adormeci sorrindo de tão feliz. Nem lembro do sonho que tive, só conseguia pensar em Bruno e na gente. No dia seguinte, ao acordar, estava muito feliz. Tudo parecia um sonho. Não conseguia acreditar que uma pessoa tão especial tinha aparecido para me fazer mais feliz. Estava tudo tão bom que tinha medo de estragar tudo.

Estava tão distraída com meus pensamentos que nem havia percebido que havia uma rosa sobre a mesa com meu nome nela. Era dele. Não acreditava no quanto ele era fofo. Fiquei parada, meio que sem saber como agir. Ele parecia ser tudo o que sempre sonhei e não queria que ficasse apenas num amor de férias. Fui à praia para encontrá-lo. Ele estava surfando, só para variar.

Saiu do mar e ficamos conversando até um amigo dele vir chamá-lo. Ele teve que ir e não voltou. Minhas amigas e eu estranhamos. Não entendi o que estava acontecendo, e não o vi mais durante todo o dia. Indignada achei que era melhor esquecer mesmo. Seria apenas mais um e pronto. Homens eram sempre todos iguais. Não entendia como pude ser tão tola de acreditar naquela conversa de "você é especial". Retrai-me e deixei passar o resto do dia deitada na rede pensando.

Não havia dormido a noite inteira e resolvi sair de manhã bem cedo para caminhar. Seria o nosso último dia na casa de praia e achei que o melhor era não voltar para casa emburrada. Um dos amigos dele me procurou quando estava na praia, para me explicar o que havia acontecido. O pai dele estava doente e ele teve de voltar por causa disso.

Fiquei arrasada com a minha insensibilidade. Como pude pensar tão mal dele? Ele talvez não fosse como os outros que eu havia conhecido. Voltei ao lugar onde ele havia me levado e pensei se seria realmente verdade o que o amigo tinha dito ou não. Essa dúvida me consumia. Queria acreditar no amigo, mas a experiência me apontava o contrário. Fechei os olhos por um instante e uma brisa leve bateu no meu rosto. Parecia como se alguém estivesse ali, mas não tinha ninguém. Fiquei mais um tempinho e voltei para terminar de arrumar minhas coisas. Cheguei a conclusão que o melhor era esquecer. Amor de praia não sobe a serra, já diz o ditado, além do que talvez não o visse nunca mais.

O amigo de Bruno passou novamente na nossa casa e disse que também estava indo embora, mas queria o número da gente pois no fim das férias ele tradicionalmente dáva uma festa e queria nos convidar. Além disso, ele havia se interessado por uma das minhas amigas e era uma oportunidade perfeita pra vê-la novamente e eu poderia encontrar Bruno de novo. Tinha medo de como seria, preferi nem pensar.

(tem continuação...)

se todas as paixões fossem assim... (parte 1)

Foi amor à primeira vista. Os olhares se cruzaram e parecia que já nos conhecíamos a milhares de anos. Abaixei a cabeça, escondendo o sorriso que nascia em meu rosto. Minhas amigas perguntavam porque aquela cara boba e quando tornei a levantar o olhar, ele já não mais estava lá. Talvez tivesse sido apenas uma ilusão. Ele parecia com alguém que eu já conhecia, mas conhecia de onde?! Achei melhor esquecer, com certeza era ilusão.

Na manhã seguinte, quando estava na praia, eu o vi de novo. Desta vez não era ilusão, pois todas as minhas amigas o viram. Acho que ele estava tão envergonhado quanto eu, mas ainda assim teve coragem de vir falar comigo. Disse que tinha me visto na tarde anterior e que achava que me conhecia de algum lugar. Respondi que tinha tido a mesma impressão, ao que ele falou:
- Talvez estejamos destinados um ao outro.
- É...talvez. - respondi rindo.

Ele se apresentou e perguntou meu nome. Seu nome era Bruno. Ficamos conversando sem notar as horas passando, quando de repente, um de seus amigos grita chamando-o para ver o pôr-do-sol. Ele perguntou se me veria de novo, e a resposta veio naturalmente:
- Se o destino quiser...

Ele riu, um sorriso lindo, e se foi. Voltei para minhas amigas tão encantada, que fui acusada de estar apaixonada. Comentamos sobre ele e a conversa, enquanto a lua subia grande e redonda no céu, quase como saida de dentro do mar. A dona da noite estava bonita naquela noite e ela embalou meu sonho. Um sonho lindo em que eu e Bruno fugíamos de tudo para ficarmos juntos. Com certeza a lua ria, pois de alguma forma ela estava nos unindo.

Bruno era um amor de pessoa, carinhoso, simpático, inteligente e bonito. Era um tipo um pouco diferente, alto e forte, mas não em exagero, com olhos verdes e pele morena. Os cabelos ondulados, na maioria das vezes, revoltos com o vento davam uma cara de muleque a ele. O que mais me impressionavam eram seus olhos. O verde brilhava quando falava sobre o que gostava, principalmente, o mar. Era sensível e agradável. Parecia-me doce e honesto. A pessoa perfeita pra mim.

Quando acordei, corri para a praia. Esperei por horas na tentativa de encontrá-lo. Olhei a praia inteira, procurando quase desesperadamente aquele olhar. O meu olhar perdido já desistia de encontrá-lo quando o vi. Lindo, saindo do mar. Seus olhos verdes sorriam para mim e de repente até eu sorria. Ele me olhava de uma forma, dificil de explicar. Parecia penetrar na minha alma e capturar tudo de bom que tinha em mim. Veio em minha direção e sentou-se ao meu lado.
- Bom dia. - falei.
- Ótimo dia...ainda mais com você aqui.

Foi o bastante para que eu ficasse toda envergonhada. Ele pediu desculpas por ter saido sem se despedir no dia anterior, apesar de eu ter dito que não havia problema. Perguntou sobre o que eu tinha feito a noite e ficamos conversando. Ele então disse:
- Você vem muito nessa praia?
- Todas as férias. Por quê?
- É que eu queria te mostrar um lugar...Vem!

Nos levantamos e saímos andando. No começo fiquei na dúvida de onde ele me levaria, mas esse pensamento não durou muito, pois de repente percebi que ele havia parado.
- Já chegamos?
- Ainda não.
- Então por que você parou?
- Porque estava vendo como você é linda.

Novamente ele me deixou envergonhada. E, para quebrar o gelo jogou um punhado de areia em mim, começando a correr como uma criança travessa de dez anos. Corri atrás dele tentando jogar areia, mas ele era um pouco mais rápido que eu. Estava morta no momento em que ele disse:
- Gabi, este aqui é o paraíso.

Olhei ao meu redor, realmente era perfeito. Um rio que encontrava o mar, cercado de árvores e coqueiros, além de algumas pedras do outro lado. Era quase uma praia deserta, pois poucas pessoas iam lá. Fiquei feito uma abestada olhando como Deus era bom em ter criado um lugar assim, quando Bruno, que estava dentro d'água, jogou mais areia em mim. Corri para dentro e ficamos lá durante um bom tempo.

Saimos da água e sentei numa pedra, Bruno sentou-se ao meu lado e disse que era muito bom ter me levado ali, pois eu era especial. Nos olhamos profundamente durante um minuto que pareceu durar uma eternidade. Bruno se inclinou para me beijar e eu, para meu próprio espanto, virei a cara, me levantei e saí correndo. Acho que ele não entendeu nada, nem eu mesma me entendi. Apenas olhei para ele e falei:
- Acho melhor voltarmos, as meninas devem estar preocupadas.

Voltamos calados, sem nos olharmos. Tudo em minha cabeça estava confuso, já não sabia o que queria. Queria estar com ele, mas fugia dele. Como isso era possível? O que acontecia comigo? Já não via a hora de encontrar com minhas amigas e voltar para casa sem tocar nesse assunto. Sentia coisas que nunca havia sentido antes.

Quando chegamos onde o pessoal estava inventei que tinha que ir em casa e fui quase correndo. Minhas amigas ainda ficaram lá um tempo, mas deitada na cama eu apenas chorava. O que eu tinha feito? Se eu queria, talvez agora fosse tarde demais. Pensava em tudo o que haviamos conversado e tudo que havia sentido tão rapidamente e nessa confusão de sentimentos e pensamentos acabei adormecendo.

(tem continuação...)

quinta-feira, 31 de julho de 2008

enterrada como um tesouro...

Após dois anos e meio apaixonada não sabia bem o que fazer. Na verdade, dizer que foram exatos dois anos e seis meses é um erro. Com tantas coisas que aconteceram era dificil dizer que no fim ainda era apaixonada. Talvez isso que faltou. Dizer que precisava se re-apaixonar. Se alguém perguntasse por quem, a resposta era óbvia, pelo seu namorado. O problema é que nunca disse isso a ele, pois ele nunca entenderia. Amava-o, mas era insuportável continuar como estava.

Mas, e agora? A teoria era se congelar. Não gostar de ninguém tão cedo. Não se envolver tão cedo. Não se apegar. Seria isso possivel? Logo ela, de todas a mais romântica. A que sempre se apaixonava, assim, tão facilmente. A que bastava um beijo para sonhar quase todo um futuro pela frente. Sim, ela. Essa garota romântica precisava por os pé no chão e se "congelar". Tentaria não se apegar a ninguém.

Com pouco tempo sabia que isso não daria certo. Se uma determinada antiga paixão aparecesse bastaria para que todo seu discurso caisse por terra. Ele só precisaria dizer uma coisa. Mas, ele nunca disse. Ele nunca fez. Ele nunca desafio aquele discurso.

Apareceu outro. Atencioso, simpático, agradável, inteligente. Tinha qualidades que ela admirava e conseguia envolvê-la de forma leve e sutil. Quando deu por si estava envolvida. Esperava ele no MSN, esperava que o telefone tocasse, esperava um convite. Quando o convite finalmente veio, durante uma conversa no MSN, ela esperou que o telefone tocasse no dia marcado. Mas, esperou já tão desacreditada, que logo marcou algo e saiu. Mais uma vez seu discurso continuou intacto.

Depois disso esfriou a cabeça. Sabia que não seria facil encontrar uma paixão e achou que nem devia mais procurar. Deixar as coisas acontecerem sempre foi algo que ela pensou, então, porque não pensar nesse momento? O que aconteceu foi uma investida errada. O medo de se entregar parecia tão grande que era mais fácil procurar e demonstrar coisas sem futuro do que uma coisa duradoura e estável.

Assim foi, que, de repente, achou ter achado alguém. O medo era tão grande, que chegou a falar a frase:"não deixa eu me apaixonar por ele"! Quem diz um negócio desse?! Quem não quer se apaixonar por uma pessoa que, aparentemente, era legal, atenciosa, carinhosa e que parecia estar no mesmo rumo?! Afastou-se, por motivos já citados. Aproximou-se quando viu que seu romantismo queria alguém do lado, alguém perto. Alguém para ligar naqueles dias em que a bebedeira fosse demasiada e quisesse ouvir uma voz amiga. Alguém para sair no domingo sem graça. Alguém para conversar por horas.

Só que esse alguém que ela não queria se apaixonar, realmente não queria se apaixonar. Ou se queria, não era exatamente por ela. E, ao descobrir isso ela sofreu. Quando seu discurso quase caia por terra, ela percebeu que ela não seria correspondida. De que valeria se apaixonar sozinha!? Não era mais isso que ela queria. Queria uma paixão correspondida, não um amor platônico. Entretanto, essa ferida demorou a cicatrizar. Passou meses desejando não ter se envolvido tanto. Não ter agido como agiu. Feito diferente. Até o dia em que conseguiu enxergar que o problema não era dela. Ele talvez estivesse apaixonado, mas não por ela.

Recolheu seus cacos, já que aprendeu que ninguém recolherá por ela, e seguiu em frente. Continua seguindo, com um medo tremendo que nunca teve na vida. Como nenhuma vez na vida está com medo de se envolver. Não consegue imaginar com os homens que beija nada além dos minutos seguintes. Talvez um recado no Orkut no dia seguinte. Uma conversa no msn já é quase uma raridade. Pedir o telefone e efetivamente ligar? Isso nem passa pela cabeça dela. Guarda no fundo do seu peito todos os sonhos românticos, todas as frases bonitinhas, todos os filmes de comédia romântica com os quais sonha, todos os telefonemas que nunca recebeu nem receberá. Guarda como quem guarda um tesouro. Enterrado lá no fundo. Tão no fundo que parece que não sente mais nada. E parece, até, que nunca mais vai voltar a sentir...

quinta-feira, 26 de junho de 2008

You can't love me. I have a cold heart!

Depois de inúmeras decepções decidiu que não se apaixonaria mais. Apaixonar-se para quê? Para sofrer? Para se sentir infeliz quando acabasse? Para ficar na dúvida se era correspondida ou não? O melhor era congelar o "coração" e viver momentos. Pronto! Estava tudo resolvido, caso pensado. O melhor que faria era não sentir e isso dáva para fazer.

Resolveu viajar. E porque não? Viagens fazem bem para a cabeça e o coração. Abstrair-se de tudo que vivia, de tudo que viveu, nem que fosse por apenas um mês. Poderia conhecer pessoas e pelo simples fato de que "não era dali, não foi pra ficar" não precisaria se apegar. Não precisaria se preocupar em sentir algo, pois o lógico já era não sentir.

Conheceu um homem. Ou menino. Ou rapaz. Como queira chamá-lo. Também não era de lá, nem havia ido para ficar. Para ela tudo não havia passado de uma noite única. Alguns beijinhos e pronto. Talvez o veria no dia seguinte no albergue, talvez não, mas provavelmente indo embora dali, não o veria mais. Bem, não foi exatamente o que aconteceu.

Encontraram-se no dia seguinte. Constrangida, ela quase não falava nada. Ele ofereceu-se para pegar o trem com ela no dia seguinte. Para onde ele iria era o mesmo trem. Graças a lotação do trem não sentaram juntos. Ele desceu na parada errada e ela riu da idiotice dele. Achava-o bonitinho, mas não sentia nada. Conseguia finalmente não sentir.

Para sua surpresa encontrou-o dois dias depois. Sim, ela pararia numa cidade antes e iria para o mesmo destino que ele, mas a probabilidade de encontrá-lo era mínima. A cidade era grande e estava cheio de turistas. Mais um engano. Estava no mesmo albergue que ela. Conversando com outros brasileiros que nem ela. Acabaram saindo todos juntos, mas se perderam do resto do grupo e na madrugada de Paris, procuravam o endereço de onde estavam.

Foi, então, nessa hora que pararam para tentar comer. Ele reclamava de fome. Ela só queria se livrar dele. Sentaram à mesa e durante a conversa ele solta um: "I love you". Estática, a única coisa que ela conseguia dizer era que seu coração era de gelo. Que não estava preparada para isso. Desconversou e considerou que aquilo era conversa de bebado. Principalmente, quando, no dia seguinte, ele manda uma mensagem dizendo que estava de ressaca e nada lembrava.

No dia seguinte, ela já estava longe. Longe dele, longe daquela noite, longe de seu coração congelado. Não o viu mais, apesar de mais uma vez estarem na mesma cidade. Mandou alguns emails ainda. Ele lamentava não tê-la visto novamente. Ela sentia-se aliviada por isso. Mas, quando ele disse que tudo o que dissera não havia sido da boca para fora, apavorada, ela respondeu que o que ela dissera também não era.

Tinha o coração de gelo, ou pelo menos tentava tê-lo, e a última coisa que ela queria era gostar de alguém que morasse do outro lado do mundo, literalmente. Ficava triste de magoá-lo, se é que de fato o maguou, mas era sincera demais para não responder a verdade.

Ele nunca mais a escreveu. Disse não estar chateado, mas sumiu da vida dela, como ela queria que fosse. Permaneceu com seu coração congelado. Evitando se envolver mais profundamente com medo de sofrer.

O resultado disso foi um envolvimento inesperado. Diferente do caramujo que tentava ser, abriu-se de uma forma que só havia se aberto para uma pessoa. A pessoa que ela havia se apaixonado profundamente, amado loucamente e separado por brigar intensamente. Abriu-se e sofreu. Abriu-se, talvez, para a pessoa errada, na hora errada. E fechou-se para outros que podiam ser os certos. Outros que podiam acalentar seu coração e derreter o gelo que ela impôs para si.

Hoje não pode dizer que sofre. Hoje pode dizer que espera. Que tenta. Que procura. Que gostaria imensamente que alguém aparecesse para aquecer seu coração e repetir, cara a cara, a meia luz:"eu te amo".

quarta-feira, 18 de junho de 2008

todas as noites

Observava todas as noites o mesmo ritual. Ela trocava de roupa lentamente, colocando a camisola e jogando a roupa, seja ela qual fosse, na cadeira encostada na parede. Já nem se irritava mais com o fato de que isso podia amassar as suas roupas, que sempre estavam bem dobradas.

Entrava no banheiro como se ele não estivesse esperando por ela, acendia a luz do espelho e olhava o resto para ver como estava naquela noite. Lavava-se duas vezes, enxugando-se rapidamente com a toalha que estivesse mais perto e passando o hidratante. Escovava os dentes rapidamente e apagava a luz do espelho.

Saia do banheiro, apagando a luz e fechando a porta atrás de si. Soltava os cabelos, que, geralmente, estavam num coque todo desgrenhado e mexia neles, como uma forma de soltar os longos fios castanhos e lisos. Nessa hora olhava para ele. Com o mesmo olhar doce que olhava todas as noites. Com o mesmo olhar doce da primeira vez em que dormiram juntos e acordaram. Com o mesmo olhar doce de todas as manhãs.

Ele fazia o mesmo. Admirava todos os gestos dela. Dos mais desajeitados aos mais elaborados. Acompanhava silenciosamente todos os seus passos dentro do quarto antes de dormir e lembrava-se, todas as noites, de porque a amava tanto. Admirava sua simplicidade, sei jeitinho desengonçado, sua vaidade comedida. Havia noites em que ela não passava o hidratante, mas ainda assim o ritual era similar e ele gostava de observá-la.

Pegava o copo de água que estava sobre a cômoda, bebia-o todo, depois sentava-se na cama e o olhava. Deitava-se de uma vez na cama, de forma que ele, que estava de lado, sempre a abraçava e a beijava. Era um beijo longo, de boa noite, mas apaixonado como se fosse a primeira vez que se beijavam.

Ele a soltava lentamente, para que ela se virasse de lado e ele a abraçasse novamente. Dormiam assim. Ele abraçado nela, perdido no cheiro e nos fios daqueles longos cabelos lisos. Ela dormia abraçada, protegida por aquele que amava.

domingo, 15 de junho de 2008

- não vai dar certo.
- por quê não vai dar certo?
- por que eu vi todas as coisas que você fez...
- mas você também fez...eu ia ficar só olhando é?
- não, mas é diferente.
- o que é diferente?
- as coisas que eu fiz..
- para mim dá no mesmo.
- não, é diferente.
- e por quê é diferente?
- por que é!
- por quê você é homem e eu sou mulher? isso é machismo!
- não é bem assim.
- e, como é!? você diz que não vai dar certo, mas nem pára para tentar.
- ...
- diz que é porque você não gosta de mim, porque a gente não tem química, que a gente não tem nada em comum, que eu sou chata, que eu sou burra, que eu sou feia, que nosso beijo não combina, que você está apaixonado por outra...mas não diz que é porque 'é diferente', porque isso não justifica nada.
- ...

terça-feira, 3 de junho de 2008

uma vez por mês...

Uma vez por mês Mariana lembrava dele. Queria que o telefone tocasse e fosse ele, dizendo que estava com saudades. Dizendo que mudou de idéia.

Pensava se poderia ser diferente. Se as coisas acontecem quando têm que acontecer, então nada do que ela fizesse poderia mudar o resultado final. Será? Será que tudo é tão deterministico assim? Será que outras palavras, outras atitudes não poderiam trazer um resultado diferente? Ou será que os sentimentos que vivenciava diminuiriam ou mudariam?

Estava cansada de pensar nisso tudo, pois sabia que nada mudaria, que não poderia voltar no tempo. Hoje ele era apenas um "fantasma", que visitava seus pensamentos quando menos esperava.

Olhou para frente e viu aquele carro. O carro de Fernando.

Fernando tinha sido um turbilhão na vida de Mariana. Não, não era Fernando que atormentava seus pensamentos, ele apenas havia sido o motivo para ela se esquivar do "fantasma", que hoje lhe causava dor.

Fernando era tudo que o outro não era. Encantou-a por ser diferente. Mariana quis, principalmente, por saber que não poderia tê-lo, nunca.

Ao vê-la abraçou-a como se tudo nunca tivesse mudado entre eles. Mariana foi dura. Estava surpresa de vê-lo ali e não escondeu. Beijou-a como sempre fazia, sem vergonha, com a maior intimidade, como se fosse um hábito.

Mariana não resistiu. Entregou-se ao beijo como sempre fazia. Coincidentemente (?) estava com a mesma roupa que vestia no dia que soube do primeiro deslize de Fernando., no mesmo dia em que o seu "fantasma" a ligou pela primeira vez.

Fernando não notou a distância de Mariana. Continuou agradando-a como sempre fazia, fingindo que só existia ela, mesmo sabendo que não era verdade. Recebeu uma mensagem no celular, mas escondeu, como se não fosse nada. Mariana percebeu. Perguntou porque ele escondia a mensagem da outra. Fernando defendia-se, dizendo não haver outra.

Claro que não. Mariana era a outra. A da mensagem era a titular, a namorada, aquela que ele nem ousava comentar sobre.

Mariana ajeitou-se nos braços dele e ignorou. Não adiantava fazer nada. O melhor era aproveitar aquele momento, que não demoraria muito para acabar...

O despertador tocou. Mariana acordou atrasada. Tudo havia sido um sonho. Tinha sido tudo tão claro. Ela, Fernando, a mensagem...

Vestiu-se apressadamente, sem perceber que vestia a mesma roupa do sonho. No caminho para a aula lembrou-se dele. Não de Fernando, mas do outro, do seu "fantasma", aquele que, obrigatoriamente lembrava uma vez no mês. Faziam três meses da primeira ligação, ligaria de novo? Faziam três meses, mas pareciam menos. Foram poucos encontros, mas pareciam muito mais...

domingo, 1 de junho de 2008

para ela, meu exemplo...

Ela reclamou que no seu presente não tinha cartão dedicatória. Mas o que eu diria para ela? Mais uma vez que ela é meu exemplo maior? O que eu quero ser quando crescer? Que a amo e me orgulho dela?! Isso é o que venho tentando dizer todos os dias, ou pelo menos todos os anos (nas datas festivas) pelos últimos 19 anos...(sim, porque deve ter sido com aproximadamente 2 anos que consegui articular frases nesse nivel..hehehe)

E o pior, é que ela sabe disso. Sabe que eu a amo e que quando eu crescer quero ser igual a ela. Sabe que ela é minha base de sustentação, a pessoa a quem eu sempre recorro nas situações de problema, pois é sempre ela que vai dar solução mesmo...

Mas, mesmo assim, sabendo de tudo isso, do meu enorme amor por ela, ela se decepciona, se desaponta, se culpa, fica triste...E acho que ela não tem culpa. Sei que ela sempre fez de tudo para ser perfeita, mesmo sem querer ser. Sei que me deu todo o amor necessário e até mais, me ensinou a não mentir, a ser sincera e a confiar nela, pois ela confia em mim..Ou pelo menos confiava...

Fico triste de pensar nas vezes que ela desconfiou de mim, se desapontou, chorou, ficou com raiva, se magou comigo, nas vezes em que brigou comigo..Quero que ela saiba que não faço nada disso para deixá-la triste ou para desapontá-la, mas é a forma que eu tenho tentado aprender, por mais que ela ensine a aprender sem ser levando na cabeça..

Quero que ela saiba que cresci, mas que sempre serei a sua "bebê", sempre buscarei no seu colo conforto e respostas, mas que reconheço minhas responsabilidades, meus erros e todas as vezes que a deixei triste e que não quero mais que ela se decepcione comigo, mesmo sabendo que isso ainda pode acontecer...

Amo-a mais que a tudo..(não só a ela...)..e a perdôo por qualquer mágoa que me tenha causado...Por ela qualquer sacrificio seria válido e para ela que escrevo isso...

Escrevo como forma de dizer, mais uma vez, tudo o que ela já sabe...mas que eu nunca vou cansar de repetir...Te amo, mamãe!

domingo, 25 de maio de 2008

e quando você menos espera...

O barulho era grande, mas a conversa não era tão interessante assim. Para não morrer de tédio, olhava ao redor das mesas a procura de, quem sabe, uma mesa vazia ou, até, alguém interessante. Começo de semestre, os bares ao redor das universidades sempre estão lotados.

Durante seu passeio com os olhos, eis que um olhar lhe pára. Logo atrás do bêbado sem camisa entornando uma garrafa de 600ml, estava ele. Nossa! Quanto tempo que não se viam, apesar de não parecer tanto tempo assim para ela. Tinha a impressão de tê-lo visto em algum lugar, mas onde? Os pensamentos vinham rápido enquanto sorriam e acenavam um para o outro. Estaria ele com o descamisado? Acompanhou-o discretamente com o olhar e viu onde sentara, o descamisado nao foi junto, ainda bem.

Finalmente, alguém interessante! Continuou a beber sua cerveja, agora com outro sabor, um sabor de "olha as coisas melhorando", um sabor de "é, quem sabe...ou não...". De repente, lembrou-se. Sonhou com ele outra noite. Mas o quê? Nao conseguia lembrar mais. E por que diabos sonharia com alguém que não via, nem ouvia falar há tanto tempo? Tudo bem...o inconsciente é ilógico, mas ele não tira coisas do baú do nada, a não ser que algo aconteça. Inconsciente coletivo? Talvez...Premonição? Quem sabe...

Mas, a parte dos devaneios a cerca de onde o havia visto, resolveu ir até onde ele estava. Ao abordá-lo foi direta, característica que muitas vezes ocultava. Ele sorriu, beijando-lhe o rosto. Entre cumprimentos de pessoas que nao se viam há tempos, ela solta a pergunta que lhe interessava, sem nem pensar que a resposta poderia ser ruim para ela ou mostrar-se oferecida. Impulsiva, isso era característica permanente.

A pergunta que poderia acanhar-lhe talvez fosse a mesma que ele gostaria de fazer-lhe, portanto, a resposta foi positiva para ambos, mas mudaram de assunto, talvez para disfarçar o real interesse. Chamou-a para sentar e ela sentou. Naquele momento, esqueceu que tinha amigos lá, apenas ficou conversando com ele e com o amigo sobre qualquer assunto que surgisse...


(10/04/08, 14/04/08)

sábado, 24 de maio de 2008

lágrimas em um brigadeiro queimado...

Com uma taça de vinho na mão, perambulava pela casa como quem procura algo. Há tempos não se sentia como naquela noite. Procurava algo para comer, algo que preenchesse a falta que ela sentia. A falta que não compreendia, que não entedia, que a fazia chorar do nada, que a fazia intolerável com tudo.

Colocando o leite condensado com nescau no microondas, lembrou-se do primeiro sábado em que fizeram brigadeiro juntos. Primeira vez na casa dele, não podia deixar tudo sujo e a sua vontade de comer brigadeiro era imensa. Fizeram juntos, para assistirem ao filme depois, ele comprometeu-se de lavar a louça e assim não haveria problema para ela.

O “piiiiiiiiiiii” do microondas interrompeu seus pensamentos, mas não a tempo de não queimar o brigadeiro. Naquela noite não houve brigadeiro queimado, só amor, carinho e felicidade. Felicidade de um casal que muitas vezes não a compartilhava...

Uma lágrima rolou-lhe pelo rosto. Não sabia o que aquela lágrima significava. Não sabia do que sentia falta ou o que lhe fazia sofrer. Aquela noite já fazia tanto tempo agora. E não fazia mais nenhum sentido agora. Era passado. Algo bom, mas que não existia mais, não existia há muito tempo.

Com toda a auto-piedade existente nesses casos, assistia a uma comédia romântica e uma fala a fazia sentir-se ainda pior. “Se os homens não deixam todas as mulheres, então eles deixam a mim”. Sentia-se assim. Queria não pensar dessa forma, mas era impossível para ela. Pensava se, como no filme, encontraria alguém que gostasse dela como ela realmente era e que estaria, na maioria das vezes, presente na vida dela.

Gosto de pensar que a vida poderia ser uma comédia romântica e que conseguiria, um dia, seu tão sonhado “final feliz”, por mais distante que ele possa parecer...

quinta-feira, 22 de maio de 2008

apenas os outros...

“Ela procurava um príncipe, ele procurava só mais outra...”. Não sei quem inventou essa frase, mas pensando sobre ela vejo que é relativo. Como tudo na vida. Ele pode não ser o príncipe para ela e sim para outra. Assim como ele pode ser o príncipe e ela procurar outro.

Existem momentos. Há quem não acredite nisso, ache que “momentos diferentes” é apenas uma forma de fugir, eu não. As pessoas passam por mudanças, problemas e, às vezes, não conseguem dar conta de tudo, tendo que abrir mão de uma coisa ou de outra, ou simplesmente não estão preparadas para determinada mudança.

Se eu juntar a relatividade do príncipe e da outra com os momentos tudo fica explicado...

Ele era um príncipe: atencioso, carinhoso, simpático, bonito, agradável. Tratava-a bem até olhava-a diferente, de uma forma doce, com respeito. Ela era a outra, no sentido de não reconhecer o príncipe nele. Tratava-o bem, mas não tão bem quanto ela sabia poder.

Talvez devido a “meia distância” dela, ele começou a se afastar, de uma forma lenta, mas que de repente, para ela, ele saiu do status de príncipe para o de homem comum. Igualou-se a todos os outros que ela um dia conhecera e por mais que ela tentasse se colocar como princesa, ser apenas mais outra já estava nela e ele já havia percebido.

É aí que entra o momento. Ele não estava no momento dele. Ela sabia, sempre soube, e talvez ela também não estivesse no momento dela. Ele fugiu. Ela se arrependeu. Quis voltar atrás, quis estar presente, se fazer princesa, se fazer perfeita...

Tarde demais. Ele foge. É o que ele faz. O vínculo esta complicado para ele. Algo insuportável, algo insustentável. Tentou, não deu certo, é...acontece. Ela não conseguia aceitar. Porque sempre com ela? Quando alguém aparecia, ela evitava. Quando ele apareceu, ela fugiu.

Ele marcou. Será que ela também? Ele não era mais um príncipe, tão pouco ela foi um dia princesa. Eram mais outros. E mais outros passariam, apareceriam, tentariam. Ela continuaria a procurar um príncipe, um que ela reconhecesse assim que o visse. Ele dizia ter desistido, mas também não era muito de caçar outras. Ela procuraria um príncipe e esperava que ele também procurasse uma princesa. Vai que no momento em que eles se encontrassem de novo ela conseguisse ver o príncipe que procurava e ele a princesa que sempre esperou.


(05/05/08)