Com uma taça de vinho na mão, perambulava pela casa como quem procura algo. Há tempos não se sentia como naquela noite. Procurava algo para comer, algo que preenchesse a falta que ela sentia. A falta que não compreendia, que não entedia, que a fazia chorar do nada, que a fazia intolerável com tudo.
Colocando o leite condensado com nescau no microondas, lembrou-se do primeiro sábado em que fizeram brigadeiro juntos. Primeira vez na casa dele, não podia deixar tudo sujo e a sua vontade de comer brigadeiro era imensa. Fizeram juntos, para assistirem ao filme depois, ele comprometeu-se de lavar a louça e assim não haveria problema para ela.
O “piiiiiiiiiiii” do microondas interrompeu seus pensamentos, mas não a tempo de não queimar o brigadeiro. Naquela noite não houve brigadeiro queimado, só amor, carinho e felicidade. Felicidade de um casal que muitas vezes não a compartilhava...
Uma lágrima rolou-lhe pelo rosto. Não sabia o que aquela lágrima significava. Não sabia do que sentia falta ou o que lhe fazia sofrer. Aquela noite já fazia tanto tempo agora. E não fazia mais nenhum sentido agora. Era passado. Algo bom, mas que não existia mais, não existia há muito tempo.
Com toda a auto-piedade existente nesses casos, assistia a uma comédia romântica e uma fala a fazia sentir-se ainda pior. “Se os homens não deixam todas as mulheres, então eles deixam a mim”. Sentia-se assim. Queria não pensar dessa forma, mas era impossível para ela. Pensava se, como no filme, encontraria alguém que gostasse dela como ela realmente era e que estaria, na maioria das vezes, presente na vida dela.
Gosto de pensar que a vida poderia ser uma comédia romântica e que conseguiria, um dia, seu tão sonhado “final feliz”, por mais distante que ele possa parecer...
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