sexta-feira, 29 de agosto de 2008

um dia de abril...

O céu estava cinza naquela tarde de abril. As nuvens carregadas, quase negras, despejavam toda aágua que tinha nelas. Ao longe, naquele imenso campo, uma árvore. Grande e frondosa. Ela estava sentada ao pé daquela árvore. Não escondia-se da chuva, queria misturar-se a ela, àquele cheiro de grama molhada e àquela árvore que a protegia desprotegendo.

Tinha os cabelos molhados, ensopados, assim como a roupa, pela água da chuva. Os pés descalços brincavam com a grama e com um pouco de lama que tinha no pé daquela que lhe protegia. Fechou os olhos para poder sentir as gotas da chuva correndo-lhe pelo corpo.

Ouviu passos. Aquele barulho de sapatos na grama molhada. Abriu os olhos. Seria ele? Acreditava que iria esperar em vão. Mas, aparentemente não. Os passos faziam-se mais rápidos. No cinza do céu, conseguiu distinguir aqueles olhos verdes. Aqueles que ela tanto esperava. Seu peito se enchia de sentimentos que ela não conseguia explicar...

Os olhos se aproximavam. Já conseguia distinguir a boca, os formatos do rosto. Levantou-se e correu para ele. Pulou em seus braços, braços que a acolheram, que a levantaram e a abraçaram. Beijou-o longamente, apaixonadamente. Um beijo que poderia não acabar nunca. Colocou-a no chão e ela o puxou pela mão. Para a proteção de sua árvore, para a proteção daquele momento.

Sentou-se no chão, enquanto aqueles olhos verdes observavam toda a sua desenvoltura naquela situação. Seus cabelos molhados, escorridos no ombro, sua roupa molhada colada no corpo, destacando suas formas, seus pés enlameados, misturados com a terra, a maneira como ela sentava e sentia-se segura e a vontade naquela situação. Ela estendeu a mão puxando-o para a terra junto com ela.

Beijaram-se de novo. Um beijo com gosto de desejo. Um desejo que eles não conseguiam segurar, uma vontade de ser um só. As mãos tateavam-se, procuravam aquele prazer sensivel não só aos dedos. Deitaram-se na terra molhada e deixaram-se descobrir, mais uma vez, um ao outro. Naquele momento não existia nada, apenas eles dois, a árvore e a chuva...

Ao longe, bem ao longe, onde aquela árvore era apenas um borrão, um carro parado na estrada. Dentro dele, apenas um celular que tocava. Na tela, o nome de quem ligava: AMOR!

terça-feira, 19 de agosto de 2008

se todas as paixões fossem assim... (parte 3)

No dia seguinte acordei até melhor da dor de cotovelo, e o melhor é que era nosso último dia, íamos embora ao anoitecer. Eu adorava aquela praia, mas não aguentava olhar o mar sem lembrar do Bruno. Nem meus sonhos eram agradáveis.

Cheguei em casa e meu irmão estava lá. Perguntou-me por que tinha uma cara tão triste, uma vez que nunca voltava da casa de praia com aquela cara triste. Contei o que tinha acontecido e ele achou super estranho o cara ter sumido, mas não falou mais nada. Deitei na cama e agarrada aos meus travesseiros sonhei com Bruno. Ele estava fugindo, mas não era de mim. Era do meu irmão que dizia que ele não era homem para mim.

Acordei assustada. Havia um barulho. Era o telefone que tocava ao meu lado. Uma das minhas amigas estava dizendo que o amigo de Bruno havia lhe ligado para contar quando e onde seria a festa, e completou que só iria se eu fosse. E, obviamente, acabei indo.

A minha sorte era tão grande que a primeira pessoa que eu vi foi Bruno. Mais uma vez os olhares se cruzaram e pararam. Ao lado dele a tal menina da praia o puxava de uma forma que achei que estivessem juntos e abaixei a cabeça. O quê que eu estava fazendo ali? Era só o que eu pensava. Não demorou muito para Bruno dar um passa fora na menina e parar ao meu lado. Beijou minha mão e disse:
- Desculpa ter saido daquele jeito, mas era urgente.
- Está certo. - foi apenas o que eu disse.
- Vem...quero falar direito contigo. - e me levou para o lado de fora da casa.

A casa era enorme. Era de um outro amigo dele. Fomos até o jardim, eu ainda tinha a cabeça abaixada, quando ele com a mão a levantou para nos olharmos. Tentou me beijar, mas eu virei o rosto.
- Tudo bem. Eu realmente preciso me explicar.
- Não, Bruno, não precisa! Teu pai estava doente...aonde está explicação nisso? Me parece bem claro.
- Gabi... - disse ele passando a mão sobre meu rosto - não foi bem assim.

Fiquei calada esperando o que mais ele diria e...

- Meu pai fez uma cirurgia, mas eu já sabia disso quando eu estava contigo. O problema é...

Não deixei ele falar e disse:
- É mulher, né?
- É... - disse ele timidamente - O que acontece é que eu namorava uma menina e a gente acabou porque ela foi embora, mas ela voltou e a gente estava ficando até eu te conhecer.
- Terminou? Porque essa é velha! E eu estou bem a fim de curtir a festa. - fui me levantando, mas ele me segurou pelo braço.
- Ow mulher birrenta. Tu não está entendendo, ne?
- O que eu não estou entendendo? Que eu sou uma bonitinha qualquer da praia?
- Não! Que eu estou apaixonado por ti!
- Ha-ha-ha! Faz-me rir, ne, Bruno? Vai ser comediante, é?
- Não, é sério. Só me escuta...
- Vai...
- Quando eu te vi pela primeira vez..Gabi, tu não tem idéia..eu achei que você fosse a mulher da minha vida. Eu gostei muito da minha ex, mas quando ela acabou porque ia embora, eu superei. Quando ela voltou, eu achei que ainda gostava dela e ela também queria tentar, por isso a gente meio que estava junto. Por isso eu saí da praia correndo, porque além da minha mãe estar precisando de mim, eu precisava acabar tudo com ela para poder tentar ficar contigo.

Eu não falava nada, apenas olhava para o chão.

- Se você quiser ficar comigo, é óbvio. A gente pode começar do zero. Mas...seria sem graça, visto que...
- Bruno..começar o quê? Tu com a tua namorada a trocou por outra, imagine comigo! E eu achanndo que tinha algo diferente. Homem é tudo igual mesmo.
- Oh Gabi..tu acredita se quiser, certo? Só fica sabendo que você foi a única pessoa que eu tive vontade de levar nas pedras. E aquele lugar é muito especial. Agora tu queria curtir a festa, né? Pode ir...já acabei!

Não quis olhar na cara dele, apenas me levantei e saí. Mais uma vez, ele veio atrás de mim.
- Vai ficar nisso mesmo? Acho que eu não sou igual aos outros...Todos já teriam desistido.
- Ai Bruno...por que, hein?
- Por que o quê?
- Por que eu sou tão besta?
- Besta? Não entendi.
- Por cair nessa tua conversa...

Ele me puxou para perto dele e disse:
- É o destino. Alguém quer que a gente fique junto. - beijou-me no rosto e me puxou pela mão - Vem, vamos aproveitar a festa...


(aqui acaba, mas cada um pode fazer o seu final como queira).

(novembro/2002)




PS: qualquer semelhança é mera coincidência. os nomes usados são aqui fictícios.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

se todas as paixões fossem assim... (parte 2)

Ao acordar, as meninas me observavam. Perguntaram o que tinha acontecido, que depois que eu sai, Bruno tinha entrado no mar para surfar e quase não voltava. Ele parecia bem chateado, diziam elas. Disse a elas o que havia acontecido e elas ficaram surpresas com a minha reação.

Elas diziam que a única forma de tentar compensar o acontecido era ir para o lual que teria na praia. Obviamente elas queriam ir, mas só iriam se eu fosse. Pensei em não ir, mas era, talvez, a única oportunidade que eu teria para conversar com Bruno e explicar a situação.

A lua parecia ainda mais bonita que na noite anterior. Bruno foi a primeira pessoa que vimos.
- Quero falar com você. - falei.
- Agora? - ele perguntou friamente.
- Quando você puder.

Sentei perto de umas outras meninas que tinhamos conhecido. Cantamos a noite inteira com a fogueira no meio. O tempo inteiro não conseguia parar de olhar para ele. Havia essa menina, que estava ao lado dele, ela parecia estar bastante interessada nele, mas ele parecia não dar muita atenção. Começamos a cantar "Vamos fugir", quando Bruno veio até mim e sussurou em meu ouvido: "vamos fugir desse lugar...", pegando na minha mão e me puxando. Nos afastamos um pouco e eu falei:
- Desculpa..
- Tudo bem, se você não quer eu não devia ter insistido.
- Não é que eu não queira, mas por algum motivo achei meio precipitado. Também não entendi o que aconteceu.
- Então, se um dia você se entender, me avisa. Só posso não esperar...
- E se eu me entendesse agora?
- Ai, eu teria que fazer isso...

E me beijou. Provavelmente o melhor beijo de todos. Quando nos viramos, todo mundo estava olhando, ele pegou minha mão, beijou-a e disse:
- Seus metidos. Vão cuidar da vida de vocês.

Todo mundo riu. Voltamos para a roda e ficamos juntos o resto da noite. A menina que estava ao lado dele havia ido embora. Quando o lual terminou ele foi me deixar em casa.
- Sabia que foi melhor assim? - ele falou.
- É o quê?
- Olha como foi romântico. A lua, a música, a fogueira, o mar..Tudo isso deixou o clima perfeito pra gente.
- Não imaginava que você fosse tão romântico.
- Sua insensível. - falou me beijando.

Nos despedimos e entrei em casa. Acho que adormeci sorrindo de tão feliz. Nem lembro do sonho que tive, só conseguia pensar em Bruno e na gente. No dia seguinte, ao acordar, estava muito feliz. Tudo parecia um sonho. Não conseguia acreditar que uma pessoa tão especial tinha aparecido para me fazer mais feliz. Estava tudo tão bom que tinha medo de estragar tudo.

Estava tão distraída com meus pensamentos que nem havia percebido que havia uma rosa sobre a mesa com meu nome nela. Era dele. Não acreditava no quanto ele era fofo. Fiquei parada, meio que sem saber como agir. Ele parecia ser tudo o que sempre sonhei e não queria que ficasse apenas num amor de férias. Fui à praia para encontrá-lo. Ele estava surfando, só para variar.

Saiu do mar e ficamos conversando até um amigo dele vir chamá-lo. Ele teve que ir e não voltou. Minhas amigas e eu estranhamos. Não entendi o que estava acontecendo, e não o vi mais durante todo o dia. Indignada achei que era melhor esquecer mesmo. Seria apenas mais um e pronto. Homens eram sempre todos iguais. Não entendia como pude ser tão tola de acreditar naquela conversa de "você é especial". Retrai-me e deixei passar o resto do dia deitada na rede pensando.

Não havia dormido a noite inteira e resolvi sair de manhã bem cedo para caminhar. Seria o nosso último dia na casa de praia e achei que o melhor era não voltar para casa emburrada. Um dos amigos dele me procurou quando estava na praia, para me explicar o que havia acontecido. O pai dele estava doente e ele teve de voltar por causa disso.

Fiquei arrasada com a minha insensibilidade. Como pude pensar tão mal dele? Ele talvez não fosse como os outros que eu havia conhecido. Voltei ao lugar onde ele havia me levado e pensei se seria realmente verdade o que o amigo tinha dito ou não. Essa dúvida me consumia. Queria acreditar no amigo, mas a experiência me apontava o contrário. Fechei os olhos por um instante e uma brisa leve bateu no meu rosto. Parecia como se alguém estivesse ali, mas não tinha ninguém. Fiquei mais um tempinho e voltei para terminar de arrumar minhas coisas. Cheguei a conclusão que o melhor era esquecer. Amor de praia não sobe a serra, já diz o ditado, além do que talvez não o visse nunca mais.

O amigo de Bruno passou novamente na nossa casa e disse que também estava indo embora, mas queria o número da gente pois no fim das férias ele tradicionalmente dáva uma festa e queria nos convidar. Além disso, ele havia se interessado por uma das minhas amigas e era uma oportunidade perfeita pra vê-la novamente e eu poderia encontrar Bruno de novo. Tinha medo de como seria, preferi nem pensar.

(tem continuação...)

se todas as paixões fossem assim... (parte 1)

Foi amor à primeira vista. Os olhares se cruzaram e parecia que já nos conhecíamos a milhares de anos. Abaixei a cabeça, escondendo o sorriso que nascia em meu rosto. Minhas amigas perguntavam porque aquela cara boba e quando tornei a levantar o olhar, ele já não mais estava lá. Talvez tivesse sido apenas uma ilusão. Ele parecia com alguém que eu já conhecia, mas conhecia de onde?! Achei melhor esquecer, com certeza era ilusão.

Na manhã seguinte, quando estava na praia, eu o vi de novo. Desta vez não era ilusão, pois todas as minhas amigas o viram. Acho que ele estava tão envergonhado quanto eu, mas ainda assim teve coragem de vir falar comigo. Disse que tinha me visto na tarde anterior e que achava que me conhecia de algum lugar. Respondi que tinha tido a mesma impressão, ao que ele falou:
- Talvez estejamos destinados um ao outro.
- É...talvez. - respondi rindo.

Ele se apresentou e perguntou meu nome. Seu nome era Bruno. Ficamos conversando sem notar as horas passando, quando de repente, um de seus amigos grita chamando-o para ver o pôr-do-sol. Ele perguntou se me veria de novo, e a resposta veio naturalmente:
- Se o destino quiser...

Ele riu, um sorriso lindo, e se foi. Voltei para minhas amigas tão encantada, que fui acusada de estar apaixonada. Comentamos sobre ele e a conversa, enquanto a lua subia grande e redonda no céu, quase como saida de dentro do mar. A dona da noite estava bonita naquela noite e ela embalou meu sonho. Um sonho lindo em que eu e Bruno fugíamos de tudo para ficarmos juntos. Com certeza a lua ria, pois de alguma forma ela estava nos unindo.

Bruno era um amor de pessoa, carinhoso, simpático, inteligente e bonito. Era um tipo um pouco diferente, alto e forte, mas não em exagero, com olhos verdes e pele morena. Os cabelos ondulados, na maioria das vezes, revoltos com o vento davam uma cara de muleque a ele. O que mais me impressionavam eram seus olhos. O verde brilhava quando falava sobre o que gostava, principalmente, o mar. Era sensível e agradável. Parecia-me doce e honesto. A pessoa perfeita pra mim.

Quando acordei, corri para a praia. Esperei por horas na tentativa de encontrá-lo. Olhei a praia inteira, procurando quase desesperadamente aquele olhar. O meu olhar perdido já desistia de encontrá-lo quando o vi. Lindo, saindo do mar. Seus olhos verdes sorriam para mim e de repente até eu sorria. Ele me olhava de uma forma, dificil de explicar. Parecia penetrar na minha alma e capturar tudo de bom que tinha em mim. Veio em minha direção e sentou-se ao meu lado.
- Bom dia. - falei.
- Ótimo dia...ainda mais com você aqui.

Foi o bastante para que eu ficasse toda envergonhada. Ele pediu desculpas por ter saido sem se despedir no dia anterior, apesar de eu ter dito que não havia problema. Perguntou sobre o que eu tinha feito a noite e ficamos conversando. Ele então disse:
- Você vem muito nessa praia?
- Todas as férias. Por quê?
- É que eu queria te mostrar um lugar...Vem!

Nos levantamos e saímos andando. No começo fiquei na dúvida de onde ele me levaria, mas esse pensamento não durou muito, pois de repente percebi que ele havia parado.
- Já chegamos?
- Ainda não.
- Então por que você parou?
- Porque estava vendo como você é linda.

Novamente ele me deixou envergonhada. E, para quebrar o gelo jogou um punhado de areia em mim, começando a correr como uma criança travessa de dez anos. Corri atrás dele tentando jogar areia, mas ele era um pouco mais rápido que eu. Estava morta no momento em que ele disse:
- Gabi, este aqui é o paraíso.

Olhei ao meu redor, realmente era perfeito. Um rio que encontrava o mar, cercado de árvores e coqueiros, além de algumas pedras do outro lado. Era quase uma praia deserta, pois poucas pessoas iam lá. Fiquei feito uma abestada olhando como Deus era bom em ter criado um lugar assim, quando Bruno, que estava dentro d'água, jogou mais areia em mim. Corri para dentro e ficamos lá durante um bom tempo.

Saimos da água e sentei numa pedra, Bruno sentou-se ao meu lado e disse que era muito bom ter me levado ali, pois eu era especial. Nos olhamos profundamente durante um minuto que pareceu durar uma eternidade. Bruno se inclinou para me beijar e eu, para meu próprio espanto, virei a cara, me levantei e saí correndo. Acho que ele não entendeu nada, nem eu mesma me entendi. Apenas olhei para ele e falei:
- Acho melhor voltarmos, as meninas devem estar preocupadas.

Voltamos calados, sem nos olharmos. Tudo em minha cabeça estava confuso, já não sabia o que queria. Queria estar com ele, mas fugia dele. Como isso era possível? O que acontecia comigo? Já não via a hora de encontrar com minhas amigas e voltar para casa sem tocar nesse assunto. Sentia coisas que nunca havia sentido antes.

Quando chegamos onde o pessoal estava inventei que tinha que ir em casa e fui quase correndo. Minhas amigas ainda ficaram lá um tempo, mas deitada na cama eu apenas chorava. O que eu tinha feito? Se eu queria, talvez agora fosse tarde demais. Pensava em tudo o que haviamos conversado e tudo que havia sentido tão rapidamente e nessa confusão de sentimentos e pensamentos acabei adormecendo.

(tem continuação...)